
Passados quase 20 anos, volto ao Coliseu do Porto para assistir a um espectáculo do Chico Buarque.
Tenho na memória (cada vez mais selectiva) os óptimos concertos que deu nessa altura. Fui a todos.
A ajudar à festa, tive ainda a sorte de – num restaurante de amigos - almoçar durante 3 dias na mesa ao lado do homem, o que deu para ir trocando uns galhardetes. Ele cravou-me as fotos que fiz dos concertos, eu saquei-lhe meia dúzia de autógrafos.
Quando cá voltou passado uns anos, eu, para não borrar a pintura, decidi não ir.
Claro que rapidamente me arrependi e claro que não me serviu de nada. Os bilhetes, esgotadíssimos, eram mais disputados que cigarros numa prisão turca. Por isso desta vez, só me faltou ir buscá-los á gráfica onde foram impressos.
O concerto em causa, estava ganho à partida pelo simples facto de existir. Como é sabido, é quase tão difícil apanhá-lo em tournée como ao Benfica ganhar um campeonato. A sua timidez e o seu perfeccionismo tornam-no avesso aos palcos. E embora hoje em dia, ao que parece, já não precise de emborcar meia dúzia de whiskies antes de enfrentar a multidão, continua a ter uma postura bastante contida, limita-se ao essencial, ou seja...vai ao grão. Paradoxalmente tudo isso joga a seu favor. A sua presença tem magnetismo, cria empatia, põe-nos
in the mood, para o que quer que venha a seguir. E o que veio, foram quase duas horas a destilar a classe de quem não sabe ser outra coisa que não genial. É certo que ser o responsável por uma boa quota de clássicos da música brasileira ajuda um bocadinho. E o facto ter acabado de editar um dos melhores albums da sua carreira, tambem não prejudica nada.
Ainda assim, o homem diz não entender o que leva o público a esgotar várias salas, em nove espectáculos seguidos. Acha que é mais para “ver antes que acabe” do que qualquer outra coisa. Nem lhe passa pela cabeça que é pela fome. Que nos fez e irá, novamente, fazer passar.
Por isso, toca a encher o bandulho.
(Z)