Fotos: Hug The DJ
Com a aparelhagem do carro a debitar música da banda tricolor, lá se fizeram mais 600 km do habitual toca e foge, desta vez para realizar o velho sonho de assitir a um concerto dos (falsos) manos White.
O espaço destinado a este novo festival reúne as condições mínimas para um evento deste tipo: amplo, de fácil acesso, com infra-estruturas eficientes e um som bastante aceitável. Não tendo acontecido nenhuma enchente, o recinto manteve-se agradavelmente composto, mesmo nos menos frequentados espectáculos da tarde, como foi o caso dos Balla, num concerto idêntico ao dado à pouco na CDM, mas menos convincente na entrega e sem o trunfo que foi a presença de Rui Reininho. Foi a altura certa para ir jantar, dar uma volta pelo recinto, comprar uns vinis e voltar para junto do palco, mergulhando na confusão que se foi formando junto às grades.
Embora a maior parte dos presentes (a julgar pela quantidade de t-shirts) lá estivesse na esperança de que uma qualquer varinha de condão fosse capaz de transformar certas abóboras ressequidas em carruagens cintilantes, seria humanamente impossível alguém ficar indiferente ao show produzido pela dupla mais sui generis do actual panorama musical. Desde a preparação do palco, com os roadies a vestir (literalmemte) o conceito estético do grupo, até aos próprios instrumentos (com o aspecto tunning do drum kit de Meg a prender os olhares), nada foi descuidado neste imaginário inconfundível, que criou uma atmosfera quase tangível de excitante antecipação. Mas tudo isso é secundário perante o som visceral da banda. Aos primeiros riffs de Jack, secundados pelas secas batidas de Meg e o constante salpicar dos címbalos, a casa vem abaixo. Não teria sido preciso grande esforço para manter o estado de graça conquistado logo ao início, mas isso não lhes deve ter parecido suficiente, a entrega foi sempre aumentendo numa intensidade explosiva até ao final do concerto, simplesmente porque podem e não sabem fazer menos que isso.
A cumplicidade entre Jack (que por si só é o equivalente a metade dos Led Zeppelin) e a sua "big sister Meg" é algo raro e inexplicável, funcionando como um corpo uno, com o músico a fazer constantes aproximações à bateria, gritando no microfone nela incorporado para o efeito.
Meg tem uma postura adorável e algo icónica, mas é Jack quem conduz esta máquina descontrolada de forma obsessiva, como se fosse o último espectáculo da sua vida. Sempre no limite e permanentemente arrebatador, desde os momentos mais calmos ("We're Going To Be Friends", "I Just Don't Know What To Do With Myself") aos mais acelarados ("Icky Thump", "Blue Orchid"), desdobrando-se entre a guitarra e os teclados com uma perícia invejável.
Terminou tudo com o público a implorar por "Seven Nation Army" e, como o freguês tem sempre razão, o tema foi incorporado no coro colectivo em jeito de grandiosa jam session.
Como escreveu Mário Lopes no Y: "Há uma opinião sobre os White Stripes antes de os ver ao vivo, há uma opinião definitiva depois (...)".
Podíamos ter ficado por aqui, mas ainda deu tempo para uma corrida até ao segundo palco para assistir ao chorudo bónus que foi o concerto dos ultra vitaminados The Go! Team e acabar a noite em beleza. Divertidos e energéticos, como um bando de putos à solta no Toys‘R‘Us depois de uma overdose de cafeína, este sexteto manteve toda a gente em ebulição, pulando, correndo e dançando sem parar, trocando de brinquedos (instrumentos) e posições à medida que foram apresentando temas do primeiro álbum e do que irão editar brevemente. O curto concerto acabou em clima de festa com a assistência a entoar "Ladyflash" a plenos pulmões.
À saída do concerto, ouvia-se o chato do Billy Corgan a esganar a guitarra enquanto vendia a alma dos Smashing Pumpkins ao desbarato. Mais um triste caso de necrofilia perfeitamente evitável.
Mas a noite já estava ganha...
(Z)
5 comentários:
Visito o teu blog diariamente, um dos poucos que aprecio bastante.
Mas fiquei muito desiludido com o comentário ao concerto de Smashing Pumpkins. Billy Corgan sempre foi os Pumpkins, ele volta , eles voltam! Foi um grande concerto, a mostrar que quem sabe nao esquece, e tenho pena que nem isso consigas apreciar, preferindo fazer um comentário sem sequer assistir ao concerto.
Tive muita pena de nao ver The GO! Team, sim, mas não há comparação possível entre os dois concertos!
Algum dia tinhas de ir contra o que eu penso, foi só hoje, passado uns meses.
Continua o bom trabalho!
Tá-se mesmo a ver que as gajas não fizeram falta nenhuma! Pois, pois grande divertimento :(
Gostos não se discutem... Mas se estivesse lá tb optaria pelos the go team!
aglidole....gajas? Sem elas n havia white stripes...
:)
João, antes de mais obrigado pelo comentário.
Mas devo-te dizer que assisti a grande parte do concerto das abóboras, assim como tenho acompanhado a algo acidentada carreira de Billy Corgan pós-Pumpkins (tal como a de James Iha, bem mais interessante). Mas quem assistiu ao fabuloso concerto de Cascais em 96, com a banda completa e só bons ábums no currículo, não pôde ficar indiferente ao lento declínio que se seguiu. Os conflitos internos resultaram em álbums mais fracos e concertos menos intensos (como pude verificar em 2000) levando ao inevitável desmembramento da banda.
Por muito grande que seja o ego de Corgan, ele deve saber que "o todo é maior que a soma das partes", e James Iha (que faz aqui muita falta) há muito percebeu que isto já foi chão que deu uvas...
Sim, mas foste a primeira pessoa, que esteve em mais do que um concerto deles, que me diz que este foi pior. Toda a gente concorda que estiveram num grande nível! Embora aprecies mais a carreira de James iha, e eu também nao tenho gostado do projecto zwan, billy corgan é um senhor da música e merece todo o respeito. Aliás, a obra é dele :b
Se quiseres adiciona no msn para continuarmos a conversa :)
joao.araujo at msn.com
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