Mesmo quem seguiu com atenção a imaculada carreira de Bill Callahan desde os tempos em que editava como Smog, não estaria à espera que, logo à segunda edição em nome próprio, o homem fosse capaz de criar uma obra-prima da dimensão de "Sometimes I Wish We Were An Eagle", clássico incontestável a que apetece voltar vezes sem conta e um daqueles lugares sonoros a que verdadeiramente chamamos casa. Poderia muito bem ter sido um feito irrepetível sem que daí surgisse qualquer sentimento de orfandade, o seu sucessor, o belíssimo "Apocalypse", manteve o nível suficientemente elevado para satisfazer todos os Callahanólicos deste mundo. Mas eis que chega "Dream River" e a expressão "obra-prima" volta a fazer todo o sentido. O regresso mais aguardado do ano é tudo o que se poderia esperar e muito mais. São oito monumentais temas que vão tornar a fazer deste, o disco da vida de muito boa gente. Em dois deles ("Spring" e "Winter road"), Callahan canta "My eyes are still forming the door that I´m walking trough" e "I have learned to just keep on when things are beautiful", duas frases que, juntas, parecem balizar a sua filosofia de vida. Vida, cujo segredo da felicidade é aparentemente revelado em "Spring", sob uma sensual manta instrumental (a lembrar "Kaputt" dos Destroyer), com uma simplicidade desarmante: "All I want to do is to make love to you with a carless mind".
Preparem-se para não ouvir mais nada durante os próximos tempos.
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