Julia Holter live @ Centro Cultural Vila Flor, Guimarães 26-06-2012
Passei grande parte do concerto de ontem a matutar na pergunta que me surgiu logo após a primeira audição de Ekstasis: por que raio é que eu gosto particularmente disto?
Um disco preenchido por bizarras melodias, envoltas em camadas de vocalizações e teclados carregados de reverberação, não é propriamente a receita indicada para a adesão imediata.
Mas quando a proximidade à leveza pop das Au Revoir Simone ("In the Same Room") abre caminho para a erudição que pisca o olho a Laurie Anderson ("Boy in the Room"), tudo parece fazer o mais perfeito sentido, com a estranheza a dar lugar à sedução.
A resposta para a minha questão surgiu numa inspirada versão de "Moni Mon Ami" tocada em piano de cauda, num arranjo que manda às urtigas a atmosfera etérea do original. É ao vivo que estas músicas ganham uma dimensão mais encorpada, despidas de alguns dos artifícios de estúdio que as caracterizam e com o piano, bateria e violoncelo a criarem arranjos cuja beleza simples e directa sugere alguma familiaridade com o universo de Virginia Astley. E...bingo, é isso! Nós gostamos sempre do que nos é familiar, e horas incontáveis a gastar as estrias do "From Gardens Where We Feel Secure" tinham que deixar as suas consequências.
Nota positiva para o pequeno auditório do CCVF no que toca a luz, som e visibilidade.
Nota muito positiva para a excelente programação que Rui Torrinha tem vindo a apresentar.
Nota negativa para a política retrógrada de proibição de registo de imagens, com o olhar patrulhador dos assistentes de sala a fazer-nos sentir como se estivéssemos em Alcatraz a tentar desviar talheres do refeitório. É a disseminação de informação audio-visual, com a total concordância dos visados, que faz com que concertos como este - que de outra forma estariam às moscas - tenham lotação esgotada. São locais públicos, pagos com o dinheiro dos contribuintes, e acreditem, meia dúzia de fotografias não vão roubar a alma aos artistas.
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