Susanna & The Magical Mistery Tour

Se o resto da tournée destes noruegueses enveredar pelo mesmo secretismo que envolveu a sua vinda ao Theatro Circo, bem podem mudar o nome para o título deste post. Pelo menos até à semana passada (altura em que comprámos os primeiros bilhetes da sala), não havia, da parte do teatro, qualquer tipo de referência ao concerto em nenhum dos seus habituais meios de divulgação. Uma espécie de produção Casablanca ao contrário, sendo que neste caso o concerto sempre existiu, a promoção é que não. Isso logicamente originou uma sala quase vazia, que de outro modo poderia (deveria) ter enchido, perante um concerto a todos os níveis perfeito, baseado num dos melhores discos do ano passado, o belíssimo "Melody Mountain".
O nome do projecto é um agradável engodo, pois de "Orchestra" não tem nada (os sons saem todos do piano e das "caixinhas de música" manipuladas por um dos elementos do duo, o "Jaga Jazzist" Morten Qvenild), agora de mágica...isso tem tudo.
A fantástica voz de Susanna Wallumrød (uma robusta valquíria de cabelos fogosos), é suficiente para preencher este mundo e o outro (tão maleável, que uma oitava mais acima, e lá se ia o candelabro do teatro…), é daquelas raríssimas vozes que não precisam de qualquer tipo de suporte sonoro para encantar, esse é um bónus que vem enriquecer a experiência, através da sóbria electrónica minimalista, preenchida por suaves pinceladas de blips & clicks digitais. Mas o conjunto das duas coisas é de uma beleza impressionante, pop espraiada, planante, espaçosa. A gestão dos silêncios é de uma norwegian coolness que se reflecte até na pose de quase total imobilidade que o duo tem em palco. Tudo parece parar quando se escuta esta música.
Se a isto juntarmos um magnífico design de luzes, e um som que supera o dos próprios discos, dá para para imaginar o que perdeu quem preferiu ficar em casa a ver o Chelsea...
Se calhar foi melhor assim, poucos mas bons.
Obrigado pela festa privada, voltem sempre.



(Z)