2.11.07

The Sea And Cake - Mercedes, Porto, 29-10-07


Não há por aí muitos super-grupos aos quais a máxima "o todo é maior do que a soma das partes" se possa aplicar impunemente, mas no caso dos The Sea And Cake, ela cai que nem luvas. Embora as partes, isoladamente, valham por si mesmas, o todo consegue ir muito mais além.
Composto por quatro multi-talentosos artistas, abrangendo não só a música mas também as artes plásticas, com carreiras individuais bem sucedidas e sem nada a provar, o lendário quarteto de Chicago quando se junta, é sempre para criar algo especial.
O grupo tem, álbum após álbum (e já são sete em mais de uma década) vindo a acumular um acervo de canções que desconstroem a estrutura típica da canção pop, levando-a para territórios mais próximos do jazz (no sentido de improviso e liberdade expressiva) sem que - e esse é o segredo - conscientemente, nos apercebamos disso.
À superfície a música é levemente delicodoce e facilmente apelativa - canções pop de primeira linha, altamente viciantes e prazenteiras -, mas interiormente, vai revelando elementos de alguma estranheza que a tornam única e facilmente reconhecível aos nossos ouvidos. Esse efeito é provocado quer pelo método vocal de Sam Prekop, com um fraseado muito peculiar, quase sussurrado e ligeiramente atonal, quer pelas intrincadas malhas de guitarra que saem das mãos de Archer Prewitt, meticulosamente entrelaçadas com as produzidas por Prekop, quer ainda pela hiper-criatividade de John McEntire na bateria, em perfeita sintonia com a fluidez de Eric Claridge no baixo.
Foi exactamente isso que pudemos comprovar num Mercedes esgotadíssimo, quase a rebentar pelas costuras, onde nem uma deficiente equalização sonora (principalmente na voz), nem a cavernosa acústica do espaço, foram impedimento para um concerto intenso e extremamente emocionante. Ao vivo, as músicas ganham uma força ainda maior (reforçada também pelo intimismo do espaço), e logo após os primeiros acordes de "Up On Crutches" todos os problemas técnicos foram varridos dos nossos pensamentos (embora não dos da banda, que não parece ter achado muita piada à coisa) e mergulhamos de cabeça num "mar" doce e agitado durante os oitenta minutos que se seguiram.
Ao segundo tema (mais um de "Everybody") confirma-se a sensação de estarmos perante uma das sérias candidatas a música do ano, a cantarolável "Crossing Line", com a guitarra cortante de Archer Prewitt a causar mossa, e com Prekop a sair da seu registo vocal característico, soltando uns sonoros gritos. A partir daqui, começando com a antiguinha "The Bizz" seguiu-se uma passagem por toda a discografia do grupo, intercalada com temas do novo álbum - o qual veio trazer um retorno a um formato mais orgânico, depois do anterior e algo aparatoso "One Bedroom". Não faltaram as fundamentais "Jacking The Ball" e "Parasol" (esta coincidindo com um pedido da assistência), a feliz aproximação ao afrobeat de "Exact to Me", a piscadela ao noise de "Left On" - oportunidade para Prewitt e McEntire exibirem os seus dotes -, e, já no encore, o belíssimo "Coconut".
Uma noite inesquecível, que nos põe a pensar, como é possível, que uma banda deste calibre, com tudo para agradar a uma imensa maioria, continue a ser tão sub-aproveitada.






Na primeira parte os espanhois Litius, praticantes de um post-rock de cartilha, conseguiram captar as atenções e provavelmente despertar alguma curiosidade a pessoas que, tal como eu, desconheciam por completo a sua existência.



(Z)

5 comentários:

Anónimo disse...

Excelente!
Só é pena que no concerto em Lisboa o público se tenha portado tão deselegantemente.
Bons vídeos, como sempre HTDJ.

Anónimo disse...

Great concert by two great bands!

Anónimo disse...

Great concert by two great bands!

Anónimo disse...

Great concert by two great bands!

Hug The DJ disse...

Um dos melhores do ano, mesmo muito bom!